sexta-feira, dezembro 12, 2008

Estou Além

Gelada na verdade, mas acho que estamos todos. O próprio tempo congelou, todos os minutos e segundos cristalizados, como se fosse um ribeiro de água sólida e nós os peixes aprisionados no gelo. Não é confortável, mas também não é mau, quase como se os próprios sentimentos estivessem também suspensos e a solidez do gelo nos fornecesse protecção contra os predadores do Mundo.

Releio o que escrevi e rio-me baixinho das metáforas parvas, num riso que se fragmenta a meio e cai no vazio. Bato os pés no chão para os aquecer e sinto-os barbatanas. Não tenho nada para escrever, na verdade. Não é tanto o não querer, é não ter nada para dizer. Está tudo bem, excepto o que está mal e disso não me apetece falar. Não penso nisso sequer. Ultimamente coloquei umas lentes cor-de-rosa e só vejo as partes boas. E são muitas.

Os meus filhos estão tão crescidos e tão lindos. Ontem, no elevador, reparei que o João está finalmente mais alto do que eu. Disse-lho e ele encolheu-se, a tentar que eu não me sentisse mal por me ver ultrapassada. Não senti. Senti orgulho, imenso orgulho. A Sofia lê tudo e desembaraça-se. Preocupa-me o facto de ter uma má relação com a escola. Preocupa-me o facto de me ter enganado redondamente em relação à personalidade dela. É uma criança carinhosa, sensível, muito preocupada com tudo e todos, super-atenta aos detalhes do que a rodeia. Penso que não os protejo o suficiente, com a mesma rapidez com que penso que os protejo demais. Cresceram tão depressa.

Sou cada vez mais mimada. Tenho ao meu redor um grupo enorme de pessoas que me enche de mimo e carinho e me faz sentir bem. Penso muitas vezes se será isso e não as drogas que me permite esta camada gelada de protecção e as lentes cor-de-rosa. Tenho tido tanta atenção por parte de todos. Poderia viver assim para sempre…Claro que para sempre não existe.

Para sempre não existe e sei que a Primavera há-de chegar e com ela o degelo. Hei-de ter de largar as drogas e nadar. Hei-de ter de enfrentar os predadores. Mas hoje não quero pensar nisso, hoje quero a dormência do gelo. Quero continuar assim, além.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Maria vai com as Outras

Da primeira vez que vi este desafio resisti...da segunda também... mas agora não dá mais. Regras:

I. colocar uma foto individual nossa;
II. escolher uma banda/artista;
III. responder às questões somente com títulos de canções da banda/artista escolhido;
IV. escolher 4 pessoas que respondam ao desafio, sem esquecer de avisá-los.

I. A fotografia:



II. A banda: Trovante

III. As respostas:
>3.2. Descreve-te: “Pedra no charco”.
3.3. O que as pessoas acham de ti? “Um caso mais”.
3.4. Como descreves o teu último relacionamento: “Lua de Março”.
3.5. Descreve o estado actual da tua relação com a tua namorada ou pretendente: “Sorriso”.
3.6. Onde querias estar agora? “Esplanada”.
3.7. O que pensas a respeito do amor? “Perdidamente”.
3.8. Como é a tua vida? “Fiz-me à Cidade”.
3.9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo? “Noites de Verão”
3.10. Escreve uma frase sábia: “Saudade”.


IV. Escolher 4 pessoas a quem passar o desafio:


Blue

Winter
Sonya
Aggio

terça-feira, dezembro 09, 2008

Desinfecto-me

Em Julho deste ano e pela primeira vez na minha vida deixei de falar com alguém. Não porque me tivessem magoado demais, já fui magoada anteriormente e nunca desisti das pessoas. Tenho uma enorme facilidade em gostar dos outros e é-me difícil perder pessoas. Em Julho desisti porque cheguei à conclusão que não só não me ouviam como tudo o que eu dizia era horrivelmente distorcido. Por mais que eu tentasse ajudar, por mais que eu tentasse esclarecer, nada adiantava. Era pior do que falar para uma parede, uma vez que a parede não modifica o que dizemos nem lhes inventa significados. Desisti também porque percebi que não estava a cuidar de um afecto meu e sim de um afecto herdado, estava a lutar por alguém que não conhecia verdadeiramente, alguém que eu amava por interposta pessoa. Odiei desistir e custou-me horrores, uma vez que, sendo teimosa, me é difícil admitir derrotas.

Desisti mas continuei a observar a pessoa ao longe, com a fascinação doentia de quem segue o percurso de um ciclone à medida que vai fazendo estragos e semeando o caos. A sentir-me horrorizada mas sem deixar de olhar. A semana passada cansei-me. Percebi que me fazia mal e que me deixava doente. Percebi que me inundava de ódio e fazia de mim uma pessoa pior. Tal como defendo o direito de todos a escreverem exactamente aquilo que querem, defendo também o meu direito de ler apenas o que me apetece.

A semana passada, pela primeira vez, retirei blogs da minha lista, num esforço consciente para eliminar alguém da minha vida. Se a árvore cair no meio da floresta e ninguém vir, cairá a árvore realmente? Se fecharmos os olhos e fizermos muita força, será que conseguimos que a realidade mude? Valerá alguma coisa uma afirmação de desinteresse? No fundo sei que deixar de olhar não muda o horror, mas tenho esperança que impeça o contágio.