sexta-feira, outubro 17, 2008

Home Alone

Um momento de sossego num dia acelerado. A temperatura arrefece subitamente e o céu enche-se de nuvens. O estômago aperta-se-me num vazio amargo. Pego no telefone e tento soprar as nuvens. "Está lá?" Dizia quando era pequenina. Não está. Não está lá ninguém.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Palavras Roubadas à minha boca III

Eu ia e tirava (ou como eliminar o pneu e rodar sobre a jante)

Noutro dia, numa conversa à mesa, durante o almoço, comentaram comigo que devia tirar. Aproveitava uma ocasião propícia e pronto, aproveitava para tirar. Entretanto, falou-se também de uma outra pessoa com o mesmo problema: o de precisar de tirar. E, como tem dinheiro, nada a impede de ir e tirar. Sabe-se lá por quê. Do que ninguém se lembrou foi de pensar se isso é realmente importante para as visadas. Se estou feliz assim, ou se a outra também está. É indubitável que se sofre com isso. É um fardo que nos acompanha, é uma fama que nos persegue, é uma sombra que nos faz sobressair do resto do mundo.

Sou grande, pronto. Já nem se põe a questão de ter um pneu aqui ou ali. Toda eu sou uma câmara de ar, embora esteja aí para as curvas. Elas estão lá, mas inflaccionadas em todo o seu esplendor. E toda a gente me aconselha a desapertar o pipo e a deixar sair o ar. O que já fiz vezes sem conta, para voltar sempre ao estado inicial, ou pior ainda. Ou, como agora está na moda, a recauchutar o pneumático.

Mas eu não estou para isso. Depois de várias tentativas para despejar o ar (com sucesso, diga-se), quando se precisa de voltar ao dia-a-dia, torna-se extremamente incómodo rodar sobre a jante e acabamos por tornar a encher o pneu. Até porque este se estraga com tanta instabilidade.

A alternativa também não me agrada, porque um pneu recauchutado deixa de ser a mesma coisa. Não tem a mesma qualidade. Só sente quem tem de rodar com ele a vida inteira.

(escrito em 23·07·04) posted by Rosmaninho

sexta-feira, outubro 10, 2008

Rosmaninho

"2008/10/07

Silêncio

Há alturas em que devíamos poder hibernar e, assim, evitar aquelas coisas que vêm em rajadas incómodas. Depois de uma otite que durou mais de um mês, intervalada por uma constipação que a deixou para trás até regressar numa noite para esquecer, eis que acordo numa segunda de manhã com um peso terrível no peito, dores no corpo e outros mal-estares sobre os quais não vou entrar em pormenores. Depois de uma manhã a trabalhar, porque não podia deixar de ser, fui à procura de ajuda. Ninguém disponível, dia de trabalho e isso. Hospitais cheios, ressaca das greves que parece que houve, centros de saúde idem, chama-se, finalmente, o médico a casa, alguém há-de vir para ir à farmácia. Entretanto, já me tinha arrastado até ao supermercado, que os amigos trabalham até tarde e vivem todos longe daqui. Quase três horas depois da chamada, chega a médica, simpática mas muito pragmática: "É viral, não se preocupe. Toma isto e isto e isto e há-de passar. Coma pouco, leve e devagarinho, para não vir tudo fora." E aguente, que ela não disse mas sei que pensou.
Resultado: Um dia inteiro em casa, sem vontade de fazer o que quer que seja senão ver episódios repetidos de séries, e continuar a tossir desesperadamente, na ânsia de tirar o peso do peito. O pior, mesmo, é já ter reparado que mais um ou dois ataques de tosse como os que tenho tido provocarão a inevitável revolta das cordas vocais, que já estão a dar sinal de que irão fazer greve não tarda. Anime-se quem já não me pode ouvir, desengane-se quem pensa que me calarei.
Estes dedos não param. E amanhã vou trabalhar, porque não consigo ficar em casa."


Não te calarás nunca, Rosmaninho, que nós não deixamos!