domingo, julho 27, 2008

O tempo médio de um xixi

Na gloriosa travessia da península, o meu intestino decidiu rebelar-se e exigir atenção imediata. À falta de caixas de areia, decidi-me a utilizar um dos fabulosos vasos de porcelana que se encontram em cubículos nas estações de serviço. A tarefa revelou-se algo complexa porque, tendo em atenção a sua natureza, tornou-se necessário forrar de papel o dito vaso. Sim, tendo em atenção a Natureza, porque ao contrário do que pensa a maioria dos homens, as meninas raramente se sentam nas casas de banho públicas. E não vou explicar como fazemos, quem sabe, sabe, quem não sabe mais vale desistir de compreender as mulheres.
Depois de forrado o vaso, preparo-me para dar atenção ao dito intestino quando as luzes se apagam. Ora não tendo entrado ninguém com um bolo de anos, nem tendo ninguém batido à porta, e sendo eu uma moça inteligente, deduzo rapidamente que a referida luz possuía um temporizador que a desligava ao fim do tempo médio de um xixi, tempo esse que se tinha esgotado.
Tratei então de descobrir onde estava a "coisinha" dos infravermelhos (ó-lá-u-que-é) que ligava a luz. Primeiro tratei de agitar os braços no ar, ainda sentada e completamente às escuras. Se acham esta acção parva, imaginem que têm uma tatuagem nova que não deve ser coberta por roupa e portanto vestem um fato de banho de peça única, que se encontra, no momento, enrolado juntamente com as calças, nos vossos tornozelos. Sim, estão a imaginar bem, eu despida até aos tornozelos, sentada na sanita e a agitar os braços no ar num cubículo escuro.
Claro que esta acção não teve qualquer efeito. Pensei em que mais poderia fazer e decidi que abrir a porta poderia accionar a luz. Nessa altura tentei lembrar-me se o cubículo dava para outro com lavatório ou directamente para a loja da estação de serviço. Não me consegui lembrar. Lá abri a porta, muito a medo, e constatei com alívio que dava para um cubículo com lavatório. A luz não acendeu, mas descobri um interruptor na parede ao meu lado. Fechei rapidamente a porta e tentei encontrar o interruptor. Não funcionava.
No meio destas experiências todas, o meu intestino acabou o que tinha a fazer, sem se importar com a ausência de luz. Eu lá me convenci que também não ia ver a luz e tratei de limpar a região o melhor possível, rezando para que ficasse tudo minimamente limpo e vesti-me.
Passei então ao cubículo do lavatório e, assim que abri a torneira da água, a luz da casa-de-banho ligou-se.
Agora pergunto eu, para que será a luz accionada a partir do cubículo adjacente? Tenho cá para mim que ou os donos da estação de serviço querem despachar as pessoas ao fim do tempo médio de um xixi ou estão mesmo à espera que elas saiam sem calças para ligar a luz.

Pai






O Cavalo Marinho (Hippocampus) é um género de peixe pertencente à família Syngnathidae, que vive em águas temperadas e tropicais. Possui uma cabeça alongada com filamentos que lembram a crina de um cavalo. Tem características semelhantes às do camaleão, como mudar de cor e mexer os olhos independentemente um do outro. Nadam com o corpo na vertical, movimentando rapidamente as suas barbatanas.Os ovos postos pela fêmea são fertilizados pelo macho, que os guarda numa bolsa na base da sua cauda. Dois meses mais tarde, os ovos rompem-se e o macho realiza violentas contorções para expelir a cria.

Há pais assim. Há outros que não dão à luz, não levam ao médico e não dão comida à boca. Mas estão lá quando é preciso, transmitem carinho, amor e ideias. E quando deixam de estar fazem uma falta desgraçada.

quinta-feira, julho 17, 2008

segunda-feira, julho 07, 2008

Espelho Meu

Atravesso a rua empurrada pelo vento, suave e morno, que brinca na minha pele como as caricias que me faltam. É um vento estranho, que me tapa os olhos com o cabelo e me impede de ver o caminho. Encolho os ombros e sigo em frente, conheço o caminho de cor.
Abro a porta e entro no elevador. Por uma vez não desvio o olhar do espelho, levanto o queixo e endireito as costas, enfrentando-me. Vejo o desprezo nos meus olhos e murmuro baixinho : "odeio-te!", por entre os dentes, sem abrir a boca. Deixo o ódio preencher o vazio que tenho dentro de mim.
Hoje, só hoje, queria ser outra.

Casulo

Agora que é Verão e se deveria começar a viver, volta a apetecer-me construir um casulo e hibernar. Não quero estar onde estou nem fazer o que preciso. Sinto que despejo a vontade com o conteúdo do estômago. Voltam as dúvidas, as ânsias, as incertezas. Devo estar a precisar de aumentar a dose.