A minha amiga M. perdeu o bebé. Era a primeira gravidez e um bebé muito desejado. E aqui estou eu, sem conseguir ligar-lhe. Quero dizer-lhe imensas coisas que sei que não consolam, que me fariam sentir melhor mas que não trazem o bebé dela de volta.
Quero dizer-lhe que se aconteceu isto algo estava errado e é "melhor assim" (este "melhor assim" deve ser inconcebivel para ela), que ela ainda é muito nova, que haverá outros bebés brevemente. Sei perfeitamente que nada disto serve. E assim não digo nada, deixo o marido mimá-la e fico aqui, quietinha, a chorar por dentro, por ela.
É só um bocadinho, que vai demorar um século a passar, que só lhe vai passar quando tiver o seu pequenino nos braços. E disto não tenho a minima dúvida, porque a minha M. vai ser (já é, todos os dias úteis) uma super-mãe.
sexta-feira, março 31, 2006
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3 comentários:
Manda-lhe pelo menos um beijo...
A natureza sabe muito. Se a mãe Natureza recusou esse filho era porque ele não ia ser feliz aqui. E essa mãe, na próxima gravidez, vai estar mais forte e vai ter um belo bébé. Um abração para a M.
Bons sonhos!
O post leva já quase 6 meses, mas em outubro, senti-me assim. é uma merda nãe é? não é justo. por muito certa que a atena esteja, é assim que no sentimos.
um beijo
Quarta-feira, Outubro 26, 2005
O Lado Positivo do Inferno
Não há um lado positivo quando tudo se pinta de preto. Não há.O mundo desaba e a penumbra teimosamente não deixa frincha que seja para a luz entrar. Ganha-se pouco com as perdas e dificilmente se consegue arranjar força para perceber o que se recebe de experiência. Sofrida, doída, magoada por dentro, por fora e por todo o lado.Envolvemo-nos num xaile de lágrimas que nos cobre o corpo e a alma. Sentimos no cheiro da perda toda a raiva da injustiça. Sentimos o seu rasto de mágoa e sentimo-nos mal. Muito mal mesmo.Fica a lucidez adiada para daqui a dias, daqui a meses, daqui a anos. Fica a lucidez adiada pela confusão que é um amor que se perde de algo que nunca foi. Nunca sentimos o seu calor. Nunca tocámos. Nunca vimos. Nunca nada aconteceu e ainda assim, perdemos tudo.Não há um lado positivo do inferno. Não há. O que há – isso sim – é um lado positivo da vida que a pouco e pouco lá vai rasgando a noite e deixando para trás o entorpecimento dos sentidos. Agarramo-nos a nós e lá vamos levando esta dor de arrasto. Pode ser que um dia fique mais leve e se possa sorrir outra vez.
[uma amiga minha perdeu o bebé e é assim que eu me sinto]
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