A ideia partiu dos miúdos. Quando lhes expliquei que só tínhamos uma semana de férias para passar juntos, os quatro, disse-lhes que podiam escolher onde é que a queriam passar. Esperava que escolhessem um dos destinos habituais: praia a Sul ou uma ida para a odiada vilazinha. Para minha surpresa os pimpolhos responderam quase ao mesmo tempo e com uma só palavra: campismo. E ali fiquei eu de boca aberta, enquanto que o JP se escangalhava a rir.
Não é que eu não goste de campismo, mas acampei durante toda a minha infância e boa parte da adolescência e perdi as ideias românticas sobre o assunto. Lembro-me bem de dormir no chão duro, das melgas, do calor dentro da tenda, da falta de privacidade das paredes de pano, da falta de privacidade das casas de banho, dos mosquitos, das moscas, das formigas, dos lacraus... E depois há o pó, que invade tudo, a ideia de cozinhar, lavar loiça, lavar roupa... Afinal não gosto mesmo do campismo!
Mas não podia dizer isto aos miúdos depois de os ter deixado escolher. Ainda por cima era só uma semana. Assim ditei as minhas condições: qualquer sítio da fronteira para lá, num parque com piscina e água quente e sandes e fruta para os almoços, restaurantes para os jantares. A história da fronteira não tem a ver com mania nenhuma, mas sim com a sorte de conhecer relativamente bem o País e querer alargar horizontes.
Escolhido o sítio, iniciei os preparativos: comprar tenda, verificar colchões e sacos-cama, organizar tudo. E lá fomos, madrugada fora, rumo ao sol nascente, que é precisamente onde se acaba o romantismo todo. Todas as coisas chatas de que me lembrava aconteceram e ainda: a tenda era horrível e apertada, os restaurantes caros, as terrinhas que visitamos meio feiosas, o mar frio, para além de aranhas e osgas. Os Espanhóis que acampavam no nosso parque achavam que 23 horas era a hora ideal para jantar e ouvir flamengo em altos berros e o mais incrível é que nós, cansados de dias inteiros a banhos e turismo, adormecíamos na mesma, ao som das espanholadas.
Ainda assim foi uma semana boa, porque estávamos os quatro juntos e fazíamos tudo juntos. Acabámos em beleza na Isla Mágica, a estourar os últimos cartuchos.
Mas nunca me vou esquecer do dia em que enfrentei uma birra da Sofia, que queria ir com o pai e o irmão comprar pão. Estava cansada, empoeirada, a espirrar com o pó e quando ela berrou:"Quero ir com eles!!!" Berrei de volta:"E eu quero um quarto de hotel!"
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