Não quero escrever. Não queria escrever no início, quando tudo começou, no dia em que muito contrariada criei este blog. Continuo a acreditar que não tenho nada a dizer. Não tenho mesmo nada a dizer aos outros. Mas tenho muitas coisas a deitar fora. É tão fácil pegar na caneta e expandir a alma. E dá prazer rebuscar as palavras, sacudi-las, chocalhá-las, misturá-las até dizerem o que queremos, sem dizer demais. Porque a escrita directa não dá gozo e não limpa. E a escrita escondida perde o sentido e também não limpa. Dá prazer encontrar a forma exacta de dizer o que nos vai por dentro, como encaixar uma peça num puzzle. É indescritível a sensação de alívio proporcionada pelas ideias organizadas... mais organizadas... pronto, arejadas.
Ultimamente descubro-me a querer escrever, a buscar um pedaço de papel, nem que seja o talão do multibanco. A revolver a mala à procura do coto de um lápis, da caneta perdida. Nem tudo depois é passado para aqui. Há outros locais, outros mundos, outras formas de sentir. Há ideias que se mantém apenas nos papeis rabiscados. Há sentimentos que vão directos para o lixo, de onde vieram e de onde nunca deveriam ter saído.
Isto tudo para tentar transmitira a ideia do relaxamento que ganho quando deixo o espírito focar-se, equilibrando-se na ponta da esferográfica, enquanto traço linhas azuis secretas no papel, ilegíveis para os outros. É um movimento por vezes suave, que embala e relaxa, outras vezes brusco, nervoso, ao ritmo do coração, descarregando as preocupações, as ânsias e os gritos.
Depois há as alturas do lápis de carvão, em que não há esfera a deslizar mas sim o atrito do mineral sobre a folha, em tons de cinzento e sombra, numa escrita nublada e duvidosa que se apaga a cada passo.
A escrita movimenta-se ao ritmo da vida que muda, evolui, reinventa-se e destrói-se continuamente, fazendo lembrar os atractores estranhos, desenhando regularidades no caos.
Por tudo isto, e porque os dias são diferentes e eu também, hoje quero escrever.
8 comentários:
E se a tua teoria estiver certa e se dizes que estás com vontade de escrever então, eu, começo a torcer o nariz. E tu percebeste-me lindamente!!!
Hello. This post is likeable, and your blog is very interesting, congratulations :-). I will add in my blogroll =). If possible gives a last there on my blog, it is about the Monitor de LCD, I hope you enjoy. The address is http://monitor-de-lcd.blogspot.com. A hug.
Gosto da tua partilha meio de má vontade, exactamente porque ela é partilha. E gosto daqueles dias em que, mesmo não querendo escrever, nos dás pontos de empatia e nos mostras que as nossas incertezas não estão sós. Beijo
É a primeira vez que cá venho e foi por acaso; foi um choque ver escritos e descritos pensamentos que são meus, muito meus!
Acho estranha, improvável, fantástica mesmo, esta semelhança; terei de voltar frequentemente para assinalar as diferenças, a bem da minha sanidade mental.
mac
Blue: percebi pois, mana. Beijos.
Monitor de Lcd: spamo-te de volta.
Geeky Wife: tenho saudades tuas, miúda. E três letrinhas pra ti: MEO.
Mac: agora já sabes o que acontece quando tens ataques de sonambulismo. Também fiquei curiosa. O mail tá ali ao lado.
O mail é pessoal, tem destinatário e remetente: não quero.
Quero é manter este sítio improvável debaixo de olho até descobrir que ando a sonhar com ladrões.
As minhas desculpas por ter comentado antes e aberto a porta a uma curiosidade natural; não me pude conter, o que não é desculpa mas pode servir a compreensão. Não voltará a acontecer, prometo.
mac
Mac: os comentários são o que dão vida a um blog. De outra forma a escrita não sairia do caderno. Mas não te precipitaste, este blog está parado, porque esta escrita acontece ao sabor da vontade, que é imprevisivel. Saberás mais a olhar para trás do que para a frente. Há 3 anos de histórias já contadas. E eu controlo a curiosidade.
Eh páh, adorei o texto...especialmente a parte de que a escrita directa não alivia, nem a escrita escondida. Mas alivia construir um puzzle de metáforas dos nossos sentimentos, nem muito directas nem muito indirectas. Por vezes parece que se sufoca com a quantidade de pensamentos e ideias que nos percorrem, mas que estão desordenadas. A caneta ajuda a ordenar. Nos dias em que as palavras fluem, claro.
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