8.10 da manhã. Entro na Escola num estado de alheamento total, os pensamentos toldados, a sensação de que nem cheguei a sair. Passaram menos de 10 horas desde que saí, com os nervos à flor da pele e o espírito esmagado pelas mágoas e pelas preocupações. A última reunião de ontem foi um pesadelo e o Futuro parece negro e pesado.
A pergunta que mais vezes me atravessa o espírito é "Mas que raios ando eu aqui a fazer?" Ontem lutei o dia todo. Geri papeis, pais, colegas, alunos, funcionários. Terminei o dia a analisar legislação nova, confusa, mal elaborada, incompetente, a impor prazos impossíveis para realizações dúbias. "Por que raios ando eu aqui?"
Toca para o primeiro bloco. 90 minutos com 21 pré-adolescentes que, ultimamente, não se calam um bocadinho. Começo a aula de semblante carregado e sem sorrir. Há que manter a disciplina. E, de repente, dá-se a magia. Em menos de 10 minutos largo o manual e traço esquemas mal-amanhados no quadro. Tenho 21 pares de olhos colados a mim, a beberem-me as palavras e há cerca de 10 braços no ar.
A atmosfera enche-se com a sede de saber e o entusiasmo de aprender estimula ainda mais o meu próprio entusiasmo de ensinar. Os 90 minutos passam a correr e saio da sala cansada mas com um sorriso nos lábios e um pensamento único: "Por isto! É por isto que vale a pena!"