sexta-feira, dezembro 12, 2008

Estou Além

Gelada na verdade, mas acho que estamos todos. O próprio tempo congelou, todos os minutos e segundos cristalizados, como se fosse um ribeiro de água sólida e nós os peixes aprisionados no gelo. Não é confortável, mas também não é mau, quase como se os próprios sentimentos estivessem também suspensos e a solidez do gelo nos fornecesse protecção contra os predadores do Mundo.

Releio o que escrevi e rio-me baixinho das metáforas parvas, num riso que se fragmenta a meio e cai no vazio. Bato os pés no chão para os aquecer e sinto-os barbatanas. Não tenho nada para escrever, na verdade. Não é tanto o não querer, é não ter nada para dizer. Está tudo bem, excepto o que está mal e disso não me apetece falar. Não penso nisso sequer. Ultimamente coloquei umas lentes cor-de-rosa e só vejo as partes boas. E são muitas.

Os meus filhos estão tão crescidos e tão lindos. Ontem, no elevador, reparei que o João está finalmente mais alto do que eu. Disse-lho e ele encolheu-se, a tentar que eu não me sentisse mal por me ver ultrapassada. Não senti. Senti orgulho, imenso orgulho. A Sofia lê tudo e desembaraça-se. Preocupa-me o facto de ter uma má relação com a escola. Preocupa-me o facto de me ter enganado redondamente em relação à personalidade dela. É uma criança carinhosa, sensível, muito preocupada com tudo e todos, super-atenta aos detalhes do que a rodeia. Penso que não os protejo o suficiente, com a mesma rapidez com que penso que os protejo demais. Cresceram tão depressa.

Sou cada vez mais mimada. Tenho ao meu redor um grupo enorme de pessoas que me enche de mimo e carinho e me faz sentir bem. Penso muitas vezes se será isso e não as drogas que me permite esta camada gelada de protecção e as lentes cor-de-rosa. Tenho tido tanta atenção por parte de todos. Poderia viver assim para sempre…Claro que para sempre não existe.

Para sempre não existe e sei que a Primavera há-de chegar e com ela o degelo. Hei-de ter de largar as drogas e nadar. Hei-de ter de enfrentar os predadores. Mas hoje não quero pensar nisso, hoje quero a dormência do gelo. Quero continuar assim, além.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Maria vai com as Outras

Da primeira vez que vi este desafio resisti...da segunda também... mas agora não dá mais. Regras:

I. colocar uma foto individual nossa;
II. escolher uma banda/artista;
III. responder às questões somente com títulos de canções da banda/artista escolhido;
IV. escolher 4 pessoas que respondam ao desafio, sem esquecer de avisá-los.

I. A fotografia:



II. A banda: Trovante

III. As respostas:
>3.2. Descreve-te: “Pedra no charco”.
3.3. O que as pessoas acham de ti? “Um caso mais”.
3.4. Como descreves o teu último relacionamento: “Lua de Março”.
3.5. Descreve o estado actual da tua relação com a tua namorada ou pretendente: “Sorriso”.
3.6. Onde querias estar agora? “Esplanada”.
3.7. O que pensas a respeito do amor? “Perdidamente”.
3.8. Como é a tua vida? “Fiz-me à Cidade”.
3.9. O que pedirias se pudesses ter só um desejo? “Noites de Verão”
3.10. Escreve uma frase sábia: “Saudade”.


IV. Escolher 4 pessoas a quem passar o desafio:


Blue

Winter
Sonya
Aggio

terça-feira, dezembro 09, 2008

Desinfecto-me

Em Julho deste ano e pela primeira vez na minha vida deixei de falar com alguém. Não porque me tivessem magoado demais, já fui magoada anteriormente e nunca desisti das pessoas. Tenho uma enorme facilidade em gostar dos outros e é-me difícil perder pessoas. Em Julho desisti porque cheguei à conclusão que não só não me ouviam como tudo o que eu dizia era horrivelmente distorcido. Por mais que eu tentasse ajudar, por mais que eu tentasse esclarecer, nada adiantava. Era pior do que falar para uma parede, uma vez que a parede não modifica o que dizemos nem lhes inventa significados. Desisti também porque percebi que não estava a cuidar de um afecto meu e sim de um afecto herdado, estava a lutar por alguém que não conhecia verdadeiramente, alguém que eu amava por interposta pessoa. Odiei desistir e custou-me horrores, uma vez que, sendo teimosa, me é difícil admitir derrotas.

Desisti mas continuei a observar a pessoa ao longe, com a fascinação doentia de quem segue o percurso de um ciclone à medida que vai fazendo estragos e semeando o caos. A sentir-me horrorizada mas sem deixar de olhar. A semana passada cansei-me. Percebi que me fazia mal e que me deixava doente. Percebi que me inundava de ódio e fazia de mim uma pessoa pior. Tal como defendo o direito de todos a escreverem exactamente aquilo que querem, defendo também o meu direito de ler apenas o que me apetece.

A semana passada, pela primeira vez, retirei blogs da minha lista, num esforço consciente para eliminar alguém da minha vida. Se a árvore cair no meio da floresta e ninguém vir, cairá a árvore realmente? Se fecharmos os olhos e fizermos muita força, será que conseguimos que a realidade mude? Valerá alguma coisa uma afirmação de desinteresse? No fundo sei que deixar de olhar não muda o horror, mas tenho esperança que impeça o contágio.

terça-feira, novembro 25, 2008

Prende-me

Há dias em que ando à deriva, levada pelas marés, sem leme nem Norte. Há dias que são remoinhos e eu deixo-me ir, embalada pelas ondas, sem pensar.
Prende-me a ti. Não sei se me perco, se naufrago ou se simplesmente vou.

terça-feira, novembro 11, 2008

Nariz - pensamentos em redor do tema

Durante anos serviu de detector de mentiras cá em casa.
Tenho uns amigos muito queridos a morarem lá. Bolas, esta soou mal, parece que tenho uma infestação de alguma coisa no nariz. E não, os meus amigos não são macacos.
Estou sempre a metê-lo onde não devo.
Odeio o meu nariz, detesto ver-me de perfil.
Imagino-me com um nariz maior do que o que realmente tenho.
O ano passado houve uma noite em que desejei ardentemente estar em Nariz.
É-me muito útil para segurar os óculos.
Volta e meia avaria. Com bastante frequência. Nas últimas semanas é objecto dos meus pensamentos várias vezes por dia.
Há alturas em que a minha única ambição na vida é ter um nariz que funcione. Pai Natal, se estás a ler isto, este Natal gostava de ter um Nariz a funcionar.
Estilo isto:

Mas mais acima.

domingo, novembro 09, 2008

Não Escrevo

Não escrevo porque não. Porque não há palavras a consumirem-me e a quererem saltar-me da boca para não me sufocarem a alma. Porque as drogas bateram-me e eu estou calma. Porque diz quem me conhece que só escrevo quando estou em baixo. Porque escrevo coisas pequenas e com pouco sentido noutros lados e deixo sair a tensão como o vapor de uma panela de pressão...devagarinho...soprando. Porque não me apetece e é tão boa esta ilusão de que só faço o que me apetece!

sexta-feira, outubro 17, 2008

Home Alone

Um momento de sossego num dia acelerado. A temperatura arrefece subitamente e o céu enche-se de nuvens. O estômago aperta-se-me num vazio amargo. Pego no telefone e tento soprar as nuvens. "Está lá?" Dizia quando era pequenina. Não está. Não está lá ninguém.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Palavras Roubadas à minha boca III

Eu ia e tirava (ou como eliminar o pneu e rodar sobre a jante)

Noutro dia, numa conversa à mesa, durante o almoço, comentaram comigo que devia tirar. Aproveitava uma ocasião propícia e pronto, aproveitava para tirar. Entretanto, falou-se também de uma outra pessoa com o mesmo problema: o de precisar de tirar. E, como tem dinheiro, nada a impede de ir e tirar. Sabe-se lá por quê. Do que ninguém se lembrou foi de pensar se isso é realmente importante para as visadas. Se estou feliz assim, ou se a outra também está. É indubitável que se sofre com isso. É um fardo que nos acompanha, é uma fama que nos persegue, é uma sombra que nos faz sobressair do resto do mundo.

Sou grande, pronto. Já nem se põe a questão de ter um pneu aqui ou ali. Toda eu sou uma câmara de ar, embora esteja aí para as curvas. Elas estão lá, mas inflaccionadas em todo o seu esplendor. E toda a gente me aconselha a desapertar o pipo e a deixar sair o ar. O que já fiz vezes sem conta, para voltar sempre ao estado inicial, ou pior ainda. Ou, como agora está na moda, a recauchutar o pneumático.

Mas eu não estou para isso. Depois de várias tentativas para despejar o ar (com sucesso, diga-se), quando se precisa de voltar ao dia-a-dia, torna-se extremamente incómodo rodar sobre a jante e acabamos por tornar a encher o pneu. Até porque este se estraga com tanta instabilidade.

A alternativa também não me agrada, porque um pneu recauchutado deixa de ser a mesma coisa. Não tem a mesma qualidade. Só sente quem tem de rodar com ele a vida inteira.

(escrito em 23·07·04) posted by Rosmaninho

sexta-feira, outubro 10, 2008

Rosmaninho

"2008/10/07

Silêncio

Há alturas em que devíamos poder hibernar e, assim, evitar aquelas coisas que vêm em rajadas incómodas. Depois de uma otite que durou mais de um mês, intervalada por uma constipação que a deixou para trás até regressar numa noite para esquecer, eis que acordo numa segunda de manhã com um peso terrível no peito, dores no corpo e outros mal-estares sobre os quais não vou entrar em pormenores. Depois de uma manhã a trabalhar, porque não podia deixar de ser, fui à procura de ajuda. Ninguém disponível, dia de trabalho e isso. Hospitais cheios, ressaca das greves que parece que houve, centros de saúde idem, chama-se, finalmente, o médico a casa, alguém há-de vir para ir à farmácia. Entretanto, já me tinha arrastado até ao supermercado, que os amigos trabalham até tarde e vivem todos longe daqui. Quase três horas depois da chamada, chega a médica, simpática mas muito pragmática: "É viral, não se preocupe. Toma isto e isto e isto e há-de passar. Coma pouco, leve e devagarinho, para não vir tudo fora." E aguente, que ela não disse mas sei que pensou.
Resultado: Um dia inteiro em casa, sem vontade de fazer o que quer que seja senão ver episódios repetidos de séries, e continuar a tossir desesperadamente, na ânsia de tirar o peso do peito. O pior, mesmo, é já ter reparado que mais um ou dois ataques de tosse como os que tenho tido provocarão a inevitável revolta das cordas vocais, que já estão a dar sinal de que irão fazer greve não tarda. Anime-se quem já não me pode ouvir, desengane-se quem pensa que me calarei.
Estes dedos não param. E amanhã vou trabalhar, porque não consigo ficar em casa."


Não te calarás nunca, Rosmaninho, que nós não deixamos!

domingo, setembro 07, 2008

Choque Tecnológico...

...é quando recebemos no Hi5 um pedido de amizade da nossa Mãe. Passado o choque enche-nos um orgulho enorme de ter uma Mãe que se esforça por ir mais além. Boa, Mãe!

terça-feira, agosto 26, 2008

Superbock sem Álcool

Há dias assim, perfeitos, perfeitos. Ontem foi um. Porque é perfeito quando o céu é azul e o Sol nos aquece a alma. Porque é perfeito quando a paz nos invade o espírito e o silêncio é apenas interrompido pelos risos das crianças. Porque é perfeito quando vestimos um biquini pela primeira vez em dezasseis anos, não porque estejamos mais magras, mas apenas porque não temos que provar nada a ninguém. Porque é perfeito quando o biquini vermelho comprado na La Redute há dezasseis anos ainda nos serve. Porque é perfeito quando percebemos que não há espaço pra nadar no meio de tantas crianças felizes. Porque é perfeito quando descobrimos que o nosso filho está apaixonado e a nossa filha finalmente aprendeu a nadar. E finalmente porque é perfeito descobrir que a Lei de Lavoisier também se aplica à nossa vida e o primeiro dia deste novo estado de Borboleta pode ser como a Superbock sem álcool, assim, perfeito, perfeito.

domingo, agosto 24, 2008

Um dia...

...vou sair do casulo e recomeçar a viver. Hoje é o dia!

domingo, julho 27, 2008

O tempo médio de um xixi

Na gloriosa travessia da península, o meu intestino decidiu rebelar-se e exigir atenção imediata. À falta de caixas de areia, decidi-me a utilizar um dos fabulosos vasos de porcelana que se encontram em cubículos nas estações de serviço. A tarefa revelou-se algo complexa porque, tendo em atenção a sua natureza, tornou-se necessário forrar de papel o dito vaso. Sim, tendo em atenção a Natureza, porque ao contrário do que pensa a maioria dos homens, as meninas raramente se sentam nas casas de banho públicas. E não vou explicar como fazemos, quem sabe, sabe, quem não sabe mais vale desistir de compreender as mulheres.
Depois de forrado o vaso, preparo-me para dar atenção ao dito intestino quando as luzes se apagam. Ora não tendo entrado ninguém com um bolo de anos, nem tendo ninguém batido à porta, e sendo eu uma moça inteligente, deduzo rapidamente que a referida luz possuía um temporizador que a desligava ao fim do tempo médio de um xixi, tempo esse que se tinha esgotado.
Tratei então de descobrir onde estava a "coisinha" dos infravermelhos (ó-lá-u-que-é) que ligava a luz. Primeiro tratei de agitar os braços no ar, ainda sentada e completamente às escuras. Se acham esta acção parva, imaginem que têm uma tatuagem nova que não deve ser coberta por roupa e portanto vestem um fato de banho de peça única, que se encontra, no momento, enrolado juntamente com as calças, nos vossos tornozelos. Sim, estão a imaginar bem, eu despida até aos tornozelos, sentada na sanita e a agitar os braços no ar num cubículo escuro.
Claro que esta acção não teve qualquer efeito. Pensei em que mais poderia fazer e decidi que abrir a porta poderia accionar a luz. Nessa altura tentei lembrar-me se o cubículo dava para outro com lavatório ou directamente para a loja da estação de serviço. Não me consegui lembrar. Lá abri a porta, muito a medo, e constatei com alívio que dava para um cubículo com lavatório. A luz não acendeu, mas descobri um interruptor na parede ao meu lado. Fechei rapidamente a porta e tentei encontrar o interruptor. Não funcionava.
No meio destas experiências todas, o meu intestino acabou o que tinha a fazer, sem se importar com a ausência de luz. Eu lá me convenci que também não ia ver a luz e tratei de limpar a região o melhor possível, rezando para que ficasse tudo minimamente limpo e vesti-me.
Passei então ao cubículo do lavatório e, assim que abri a torneira da água, a luz da casa-de-banho ligou-se.
Agora pergunto eu, para que será a luz accionada a partir do cubículo adjacente? Tenho cá para mim que ou os donos da estação de serviço querem despachar as pessoas ao fim do tempo médio de um xixi ou estão mesmo à espera que elas saiam sem calças para ligar a luz.

Pai






O Cavalo Marinho (Hippocampus) é um género de peixe pertencente à família Syngnathidae, que vive em águas temperadas e tropicais. Possui uma cabeça alongada com filamentos que lembram a crina de um cavalo. Tem características semelhantes às do camaleão, como mudar de cor e mexer os olhos independentemente um do outro. Nadam com o corpo na vertical, movimentando rapidamente as suas barbatanas.Os ovos postos pela fêmea são fertilizados pelo macho, que os guarda numa bolsa na base da sua cauda. Dois meses mais tarde, os ovos rompem-se e o macho realiza violentas contorções para expelir a cria.

Há pais assim. Há outros que não dão à luz, não levam ao médico e não dão comida à boca. Mas estão lá quando é preciso, transmitem carinho, amor e ideias. E quando deixam de estar fazem uma falta desgraçada.

quinta-feira, julho 17, 2008

segunda-feira, julho 07, 2008

Espelho Meu

Atravesso a rua empurrada pelo vento, suave e morno, que brinca na minha pele como as caricias que me faltam. É um vento estranho, que me tapa os olhos com o cabelo e me impede de ver o caminho. Encolho os ombros e sigo em frente, conheço o caminho de cor.
Abro a porta e entro no elevador. Por uma vez não desvio o olhar do espelho, levanto o queixo e endireito as costas, enfrentando-me. Vejo o desprezo nos meus olhos e murmuro baixinho : "odeio-te!", por entre os dentes, sem abrir a boca. Deixo o ódio preencher o vazio que tenho dentro de mim.
Hoje, só hoje, queria ser outra.

Casulo

Agora que é Verão e se deveria começar a viver, volta a apetecer-me construir um casulo e hibernar. Não quero estar onde estou nem fazer o que preciso. Sinto que despejo a vontade com o conteúdo do estômago. Voltam as dúvidas, as ânsias, as incertezas. Devo estar a precisar de aumentar a dose.

quinta-feira, junho 26, 2008

Drogas

As drogas estão finalmente a bater. Não ando mocada, mas perdi a angústia e o desespero, que são sempre coisas simpáticas de se perder. Consigo pensar e hoje, pela primeira vez em mais de um mês, sinto-me feliz. Não me vou perder a pensar se é uma felicidade real ou farmacêutica, mas também não interessa. Ajuda ter um leitor de Mp3 novo e recheado de música fantástica. Hoje os meus pés dançam pela rua, mesmo sem eu querer e sinto-me leve. O tempo também ajuda. Transpiro esperança. E cheira bem.

quarta-feira, maio 28, 2008

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segunda-feira, maio 26, 2008

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domingo, maio 18, 2008

Mas porque raios anda ela a encher isto de canções?

Porque às vezes sinto que já foi tudo dito. E que outros o disseram melhor. Porque às vezes me apetece-me plagiar. E porque me apetece cantar. E porque sim.

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domingo, maio 11, 2008

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quinta-feira, maio 08, 2008

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quarta-feira, maio 07, 2008

Ranho

Olho para a folha de papel em branco e penso em como deitar cá para fora tudo o que tenho sufocado em mim.
Procuro as palavras que se revolvem cá dentro, imagino-as como a nuvem de probabilidades que descreve as posições de um electrão, como aprendi na Escola. Imagino-as como moléculas de água excitadas pelo aumento da temperatura, a movimentarem-se loucamente, a embater contra as paredes do recipiente que as contém, ansiosas por entrar em ebulição e passar ao estado seguinte, ansiosa por se livrarem do estado líquido que as prende e espalharem-se pelo espaço, desordenadamente, livres das pontes de hidrogénio que as unem.
Abro a boca e imagino as palavras a saírem como vapor de água, levando com elas os sentimento que se elevam e expandem. Expiro profundamente, tentando esvaziar os pulmões e a alma ao mesmo tempo. Inspiro e dou por mim a fungar. É Primavera. Tenho o nariz cheio de muco e o espírito repleto de sentimentos ranhosos que me prendem as palavras.
Já viram a quantidade de comparações pseudo-cientificas a que eram poupados se eu tivesse optado por uma formação em letras?

quinta-feira, maio 01, 2008

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Odeio Novelas

Odeio novelas. Odeio intensamente, com aquele ódio profundo que nos faz estremecer o corpo, respirar em golfadas e vibrar as narinas. Só assim vale a pena odiar, aliás, só vale a pena sentir com intensidade. Os sentimentos, ao contrário da água do banho, querem-se gélidos ou a escaldar, para rebentar com a indiferença.
Mas voltando às novelas, odeio os amores impossíveis, que seriam tão fáceis de resolver se os personagens tivessem um bocadinho de espinha dorsal. Odeio os dilemas morais que são na maioria das vezes tão cretinos que só nos dão vontade de rir. Odeio que os poucos personagens com espinha dorsal, os que decidem coisas e tomam atitudes, optem sempre por caminhos parvos, que tornam ridículo o sacrifício penoso por eles escolhidos. Odeio a forma como todos os personagens são sempre tomados por sentimentos extremos que lhes impossibilitam a lógica e lhes adormecem a capacidade de pensar. Odeio a importância desajustada que é dada aos sentimentos extremos, não estou a dizer que não são importantes, mas também não controlam as pessoas da forma que aparecem nas novelas.
Dizia Campos que todas as cartas de amor são ridículas. As novelas também.

quarta-feira, abril 30, 2008

Sem Tempo

Estou farta de falar do Tempo. Por mais que nos últimos dias sinta que cada vez mais o clima me espelha a alma e por mais que me seja fácil encontrar nele as analogias que me escondem os sentimentos, estou farta. Apetece-me escrever com palavras matemáticas, claras, directas, certeiras. Palavras cirúrgicas, que vão directas às dores e as amputam. E depois não posso, porque este é um blog de família e não uma parede de casa-de-banho, porque na verdade as dores não são localizadas, mas sim gerais e para as amputar iria danificar-me ao ponto de ficar irreconhecível. Se bem que, às vezes, nem me importava de não me conhecer.

quarta-feira, abril 23, 2008

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sexta-feira, abril 11, 2008

Bipolar

Às vezes penso como é estranha a influência do tempo nos meus estados de espírito. Já aqui escrevi sobre dias frios a congelarem-me a alma, dias quentes a aconchegarem-me o espírito, chuva irritante e enervar-me. Já aqui culpei o clima de tudo e mais alguma coisa. A verdade não é tão linear como isso e consigo estar feliz em dias de chuva e triste em dias de sol, mas a temperatura, de facto, predispõe-me o humor. E se isto implica cara fechada no Inverno, também implica dias de sorrisos radiosos no Verão. O problema são estas estações intermédias, que não são carne nem peixe, em que insidiosos raios de calor irrompem por entre nuvens, interrompendo as chuveiradas e fazendo-me piscar os olhos. São dias de humores variados em que, verdade, verdadinha, nem sei como me sinto. E muitas vezes passo-os a desejar ardentemente não me sentir...

sábado, abril 05, 2008

Dias Desiguais

Há dias que começam azuis e depois vão escurecendo e arrefecendo. Às tantas o céu carrega-se de nuvens cinzentas que vão escurecendo, a humidade envolve-nos e o frio entranha-se em nós pesadamente, com força, oprimindo e cortando-nos a respiração. Nessa altura, se tivermos sorte, voltamos a descobrir que o gajo que nos agarra os sonhos no ar e os torna realidade é também aquele que nos apanha a alma, nos espanta os papões, nos afasta os pesadelos e nos volta a embalar até sonharmos de novo. Daqui por uns tempos voltarei a ver papões e a ter pesadelos. Mas por agora, e apesar do sol já se ter posto, estou quentinha e aconchegada e com a certeza de que, por mais que ame os meus amigos e que eles me façam sentir bem, é em casa que está o meu espanta-espíritos.

quarta-feira, abril 02, 2008

Dias Azuis

A temperatura sobe e eu deixo o calor penetrar-me. Respiro mais fundo, ando com uma canção a rolar-me na língua. Saltito pela rua, corro se acho que ninguém me vê. Sorrio a todos, brinco com as palavras. Acabou o Inverno. Amanhã vou vestir roupa mais leve e deixar a alma levitar. Mas primeiro tenho de sair do raio da reunião gelada em que estou presa.

quinta-feira, março 27, 2008

Cantando Espalharei por Toda a Parte

Ok, se calhar cantando não que eu desafino.


quarta-feira, março 12, 2008

Escrita

Não quero escrever. Não queria escrever no início, quando tudo começou, no dia em que muito contrariada criei este blog. Continuo a acreditar que não tenho nada a dizer. Não tenho mesmo nada a dizer aos outros. Mas tenho muitas coisas a deitar fora. É tão fácil pegar na caneta e expandir a alma. E dá prazer rebuscar as palavras, sacudi-las, chocalhá-las, misturá-las até dizerem o que queremos, sem dizer demais. Porque a escrita directa não dá gozo e não limpa. E a escrita escondida perde o sentido e também não limpa. Dá prazer encontrar a forma exacta de dizer o que nos vai por dentro, como encaixar uma peça num puzzle. É indescritível a sensação de alívio proporcionada pelas ideias organizadas... mais organizadas... pronto, arejadas.
Ultimamente descubro-me a querer escrever, a buscar um pedaço de papel, nem que seja o talão do multibanco. A revolver a mala à procura do coto de um lápis, da caneta perdida. Nem tudo depois é passado para aqui. Há outros locais, outros mundos, outras formas de sentir. Há ideias que se mantém apenas nos papeis rabiscados. Há sentimentos que vão directos para o lixo, de onde vieram e de onde nunca deveriam ter saído.
Isto tudo para tentar transmitira a ideia do relaxamento que ganho quando deixo o espírito focar-se, equilibrando-se na ponta da esferográfica, enquanto traço linhas azuis secretas no papel, ilegíveis para os outros. É um movimento por vezes suave, que embala e relaxa, outras vezes brusco, nervoso, ao ritmo do coração, descarregando as preocupações, as ânsias e os gritos.
Depois há as alturas do lápis de carvão, em que não há esfera a deslizar mas sim o atrito do mineral sobre a folha, em tons de cinzento e sombra, numa escrita nublada e duvidosa que se apaga a cada passo.
A escrita movimenta-se ao ritmo da vida que muda, evolui, reinventa-se e destrói-se continuamente, fazendo lembrar os atractores estranhos, desenhando regularidades no caos.
Por tudo isto, e porque os dias são diferentes e eu também, hoje quero escrever.

domingo, março 09, 2008

Mudança

Ontem juntei-me a um mar de gente que lutava pela mudança. Mais do que contra as leis, as politicas, as condições, apetecia-me gritar por respeito, exigir respeito. Pela profissão, por mim, pelo meu trabalho e, acima de tudo, pelos alunos que acabam por ser os mais prejudicados pelas medidas incompetentes deste governo. Sei que não é fácil para quem está de fora perceber a gravidade da questão, mas ontem houve 80.000 (números da polícia) professores a gritarem-no. Não podem ser todos maus docentes. É preciso que nos ouçam.
Também foi engraçado conhecer pessoalmente alguém que leio há mais de 3 anos. Os blogues têm destas coisas, na verdade já nos conheciamos, foi só uma confirmação que existimos em carne e osso. És muito simpática Sofia!

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Ar

Uma vez disseram-me "És transparente, não és?" Não! Respondi chocada. Até acho que não é assim tão fácil lerem em mim, a não ser que me conheçam muito bem... Ou então não...
Hoje sinto-me assim, transparente, invisível. Não no sentido de revelar o que me vai dentro, mas no sentido de não me verem. Sinto que estar presente não faz diferença. Calar ou falar é igual. Eu sei, todos temos momento de não sirvo para nada, não me ligam nenhuma, não gostam de mim. E nem costumo ter esta vertente Calimero.
A culpa é de certeza da Primavera, que tarda em chegar.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Dias Não

Depois há dias assim, em que as nuvens se instalam no espírito em vez de o fazerem no céu, o ar se torna pesado e nos oprime e se torna impossível respirar. Dias turvos, lentos, em que se vê o dia a passar por detrás de uma cortina líquida que teima em tapar-nos a vista sem cair e libertar as mágoas. Dias em que temos a certeza que o amanhã vai ser melhor, só porque pior não parece possível. Dias sozinhos. Deve ser do tempo.

domingo, fevereiro 10, 2008

Champagne

Um ano depois tenho a testa cheia de borbulhas. Bom, cheia talvez não, mas mais do que uma. Tal como os caracóis, as borbulhas esticam-se e invadem-me o cérebro, num movimento borbulhante que lembra as borbulhas do champagne. E sinto-me mesmo como se fosse adolescente outra vez!

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Demónios




Modesto? Humilde? Acho que tenho o demónio de outra pessoa. Alguém viu o meu?

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Porquê?

8.10 da manhã. Entro na Escola num estado de alheamento total, os pensamentos toldados, a sensação de que nem cheguei a sair. Passaram menos de 10 horas desde que saí, com os nervos à flor da pele e o espírito esmagado pelas mágoas e pelas preocupações. A última reunião de ontem foi um pesadelo e o Futuro parece negro e pesado.
A pergunta que mais vezes me atravessa o espírito é "Mas que raios ando eu aqui a fazer?" Ontem lutei o dia todo. Geri papeis, pais, colegas, alunos, funcionários. Terminei o dia a analisar legislação nova, confusa, mal elaborada, incompetente, a impor prazos impossíveis para realizações dúbias. "Por que raios ando eu aqui?"
Toca para o primeiro bloco. 90 minutos com 21 pré-adolescentes que, ultimamente, não se calam um bocadinho. Começo a aula de semblante carregado e sem sorrir. Há que manter a disciplina. E, de repente, dá-se a magia. Em menos de 10 minutos largo o manual e traço esquemas mal-amanhados no quadro. Tenho 21 pares de olhos colados a mim, a beberem-me as palavras e há cerca de 10 braços no ar.
A atmosfera enche-se com a sede de saber e o entusiasmo de aprender estimula ainda mais o meu próprio entusiasmo de ensinar. Os 90 minutos passam a correr e saio da sala cansada mas com um sorriso nos lábios e um pensamento único: "Por isto! É por isto que vale a pena!"

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Dias

Há dias que se bebem, depressa e sofregamente, como se a vida dependesse da intensidade com que cada minuto é vivido.
Há dias que se vivem, calmamente e com suavidade, em que a vida desliza despreocupadamente nas voltas de ponteiros, numa dança sem principio nem fim.
Há dias que se arrastam interminavelmente, com os minutos a encherem-se de obstáculos, chatices, contrariedades e desgraças e em que chegar ao fim nos parece altamente improvável, quanto mais não seja pela quantidade inominável de horrores que se interpõe entre o momento actual e o regresso a casa. Hoje é um dia destes.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Palavras

Os sentimentos enchem-me o espírito de forma quase transbordante. As palavras sobrepõe-se e atropelam-se, saltam umas por cima das outras na pressa de querer sair. E saem convulsivamente, em soluços, sem nexo. São demais. Não se entendem, não me entendo. E acima de tudo não adiantam.
Abro de novo a boca para tentar e volta a acontecer o mesmo. Choro palavras em vez de lágrimas e não me faço entender. Fico a pensar se alguma vez terei sido entendida. Calo os soluços, afogo as palavras. Não vale a pena.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Onde está o Wally?

Ou, neste caso, a Elora?
Deixo-vos uma pista, aparece duas vezes nos primeiros 3 minutos de filme.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

D. Sebastião

Olho pela janela da sala de aula, enquanto a turma traça triângulos, por entre risos e rodopios de compassos. O ambiente da sala é alegre, com a inquietude própria da idade e da proximidade do fim-de-semana. Faz calor.
Lá fora o frio concretiza-se num nevoeiro denso e branco que desce sobre os pátios desertos da escola. Aproxima-se e cola-se aos vidros sob a forma de gotinhas minúsculas que vão escorrendo, como se o Mundo chorasse.
Toca para a saída. Mando-os sair e abro a janela numa inspiração profunda. Deixo o nevoeiro inundar-me o corpo e adormecer-me a alma. O cheiro do rio preenche-me. Não quero pensar.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

O Segredo da Felicidade

Não existe. Já aqui escrevi sobre saber ser Feliz e sobre a busca da Felicidade. Não é fácil ser feliz e é facílimo ser infeliz. Ser infeliz a dois ainda é mais fácil, uma vez que a probabilidade de, em determinado instante, um dos dois estar infeliz é o dobro da probabilidade estando sozinho. Se de cada vez que um estiver mal, ambos se afundarem a relação naufragará rapidamente.
O truque é aguentar os maus momentos do outro e relativizar as coisas. E quando os dois estão mal, onde vamos buscar as forças? Não há resposta, cada um vais buscar onde consegue. Eu vou buscar às recordações e aos pequenos nadas. Às recordações das viagens, das borgas, dos carinhos, do nascimento dos filhos, da compra da casa e daquele pôr do sol na praia em que fomos invadidos por um sentimento de felicidade absoluta (apesar de ela ser instantânea).
Eu sei que estes momentos são raros e espaçados no tempo, logo preciosos. Por isso mesmo por vezes parecem distantes e não chegam para afastar os dias de chuva.
Nessas alturas vou buscar forças aos pequenos nadas que, embora com menos impacto, são mais frequentes. Lembro-me das piadas trocadas, das gargalhadas em conjunto, dos momentos de telepatia em que basta um olhar para tudo fazer sentido. E acima de tudo lembro-me da cumplicidade, da aceitação e da partilha. Estas alturas são mais comuns e podem parecer irrelevantes quando os céus desabam, mas são o que me inspira quando tudo o mais falha e fazem-me acreditar que quando as nuvens partirem, o céu azul ficará e quando as trevas se abrirem...

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Não quero pensar

Há hipóteses que não podem, não devem ser colocadas, para bem da nossa sanidade mental. Há situações tão horríveis que deveriam ser proibidas. Não quero pensar, não posso pensar, não adianta pensar, quanto mais não seja porque não há nada que possa fazer. E, no entanto, os meus pensamentos escapam-se-me e deslizam sempre na mesma direcção. Odeio exames médicos!

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Nowhere Fast




Assim ando por estes dias...